sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


O dia de um Enfermeiro (em Portugal)...

- Acordar às 6h57 para entrar às 7h (porque o seu chefe lhe pediu por favor para entrar mais cedo)... sim, às 7h, não me enganei... Adormeci, sim, outra vez?! Sim, ainda pensei isso... Sem tempo para grandes preparações, visto a primeira roupa que me aparece, uso pela primeira vez na vida um shampoo seco porque já não tenho tempo para lavar o cabelo que todos os dias acorda pior que eu;- Às 7h05 saio de casa com um iogurte, meio pão (sem nada no meio) e um cigarro acesso entre dois dedos... Atravesso a rua (entretanto só tenho tempo de dar umas 4 passas no cigarro), apago o cigarro, acabo o iogurte e entro pelas portas do Hospital.- Às 7h15 estou fardado, com um sorriso no rosto, mas com um peso nos olhos que nem é bom pensar... o importante é sorrir!- às 7h48 punciono a primeira veia... e durante o dia mais 9 vieram. Ao final de 2 anos e 2 meses de trabalho, felizmente consigo puncionar à primeira todos os doentes... sinto-me o maior... (tinha que me exibir em alguma parte... foi esta!)- às 11h já admiti 6 doentes, não comi, e já subi e desci no mesmo elevador umas 8 vezes, sempre com o mesmo sorriso, com a conversa do costume, a tentar ser o Enfermeiro que aprendi a ser... empático, responsável, competente e criativo.- às 12h reparo que metade dos doentes estão atrasados, tento ajudar os colegas, quase impossível, porque a par de tudo isto tenho um telemóvel de serviço que não para de tocar, para tudo, tudo mesmo ("desce com o doente x (...) anda buscar o doente y (...) enfermeiro ligaram-me daí posso saber o que se passa com o meu doente? (...) enfermeiro pode pedir para vir buscar o doente w ao rx? (...) enfermeiro tenho o familiar do doente p em linha para falar com o enfermeiro (...) enfermeiro, o doente acabou de chegar e já estão à espera dele no Bloco (...) Miguel, já admitiste o doente do médico t? (...)" Sim metade das coisas, que nem sequer de doentes atribuídos a mim eram...- às 13h42 (hora em que supostamente deveria almoçar), chegam 6 doentes, todos juntos)... Admito um - bloco, admito dois - bloco... e o tempo passa. às 14h16 ainda me faltam admitir 3! Entretanto não tenho opção e peço ao meu chefe que leve dois doentes ao Bloco, felizmente tenho essa ajuda. às 14h58 os colegas já estão à espera para receber o turno e saber o que há pendente... há dois doentes por admitir... passo os doentes! e foram 9 numa manha... com preparações, com avaliações iniciais, registos informáticos, viagens ao Bloco...- entretanto são 15h25 e há 2 doentes por admitir e acho que devo pelo menos ajudar os colegas da tarde e vou admitir mais um... preparo, registo, passo à colega. São 15h52 e eu terminei o meu turno... terminei???e chegou a hora de ir para outro serviço... Vou trabalhar mais 6h, sem almoçar, sem comer uma única coisa durante toda a manhã, sem ir ao wc, sem pensar em mim... é isto ser Enfermeiro? é isto "vestir a camisola?" ok... eu visto, suo a camisola e ainda assim... o único obrigado que ouço é o dos meus doentes... aqui está!

sábado, 29 de setembro de 2012

Insatisfação

Não podia ir dormir, deitar-me sobre os meus lençóis e a minha almofada sem verter as lágrimas que representam a insatisfação vivida durante os últimos tempos... Será que é apenas um capricho poder pedir alguma qualidade quando cuidamos o Outro? Será que os meus patrões gostariam, enquanto doentes, de partilhar um Enfermeiro com mais 13 ou 15 doentes (durante um turno da manhã ou da tarde) da mesma forma que o obrigam na sua qualidade de "patrões"? Será que é preciso ver nos olhos de alguém as lágrimas da insatisfação ou apenas ver que o resultado dos cuidados, por mais esforços que se façam, não é positivo? Será que ser Enfermeiro é lidar com o reforço negativo todos os dias e não poder encontrar meio de mudar a sua vida, pensar e praticar uma ideologia do Cuidar baseada no respeito por si e pelo Outro?

Poderia aproveitar qualquer definição de Cuidar que nos é "ensinada", ou poderia criar o meu próprio conceito... poderia simplesmente não me importar com isso e fazer o que me mandam... mas será que também não posso dizer que estou cansado de Não Ser Enfermeiro? Quero poder ter orgulho do que faço, poder afirmar a minha paixão, poder sorrir para receber sorrisos em troca... Quero, apenas, Ser Enfermeiro.

Parem, pensem... observem os cuidados e não se passeiem apenas pelos corredores como se fossem grandes e importantes pessoas. Sintam o que sentimos, ouçam o que a vossa imagem para "os clientes" vos dizem porque somos nós quem vos definimos... e é tudo por agora!

domingo, 8 de abril de 2012

Eram sonhos...

Aqueles que pensava e vislumbrava na noite, às vezes gélida e negra, eram sonhos ou pesadelos que obnibulado maturava mas nao desejava, sem amor, calor, felicidade, carinho e aquela mão que aperta a nossa quando choramos, quando sorrimos ou quando queremos silêncio.

Sem pensar, sem procurar, sem desesperar e entre as cortinas das janelas que se tornaram portas, portas que abri para o corredor desse mesmo amor, do desejo, da amizade, da cumplicidade, do abraço, encontrei-te! E eis que tu, homem daqueles sonhos te fizeste sentir e desejar, te fizeste representar nas formas mais doces do meu ser. No meu olhar representado pelo brilho, nos meus lábios pela vontade que me culpou por te amar mais, no meu corpo pelo desejo que sufocou a dor e a angustia, na minha mão a saudade que existiu sempre que não te alcancei.

... deixamos o sonho para voltar à realidade da imperfeição assolada pela desilusão e cansaço!